segunda-feira, 21 de outubro de 2013

MANIFESTANTES RESGATAM CÃES DA RAÇA BEAGLE NO INSTITUTO ROYAL


Um grupo de ativistas da Frente Antivivisseccionista do Brasil, com apoio de manifestantes, entrou na sede do Instituto Royal, em São Roque/SP e resgatou os animais que eram utilizados em testes de laboratório

Cerca de 200 manifestantes de várias Organizações não governamentais – ONGs invadiram e resgataram cães da raça Beagle do Instituto Royal, no Jardim Cardoso, em São Roque/SP, no dia 18 de outubro de 2013.
A empresa, que possui apoio do governo, é acusada de maus-tratos contra animais e de não ser transparente em suas ações, já que não permite a visitação do público, nem especifica quais testes são efetuados. Os grupos de proteção animal se concentraram ao redor do prédio desde o dia 12 de outubro, mas durante a madrugada do último dia 18, após escutarem os gritos dos animais,  decidiram invadir o prédio.
Os protetores arrombaram as gaiolas e resgataram  cerca de 150 cachorros e alguns coelhos, que foram levados em carros a clínicas veterinárias particulares da região. A ativista Giuliana Stefanini, afirma que seis destes cachorros tinham tumores e estavam mutilados. “O que mais chocou o grupo foi um beagle sem os olhos"- disse Giuliana.
No laboratório, os manifestantes também encontraram vários fetos de ratos e um cachorro congelado em nitrogênio líquido.
Para a apresentadora Luisa Mel, o acontecimento foi um dos dias mais importantes de toda a história da proteção animal. Segundo ela, foram mais de dez horas tentando negociar. O Instituto Royal tinha marcado uma reunião às 17h com os organizadores. Porém, quando estavam a caminho, descobriram que era uma armadilha. Pessoas ligaram desesperadas dizendo que eles estavam tentando retirar os animais. “Pedi ajuda pelo Facebook e um milagre começou a acontecer. Centenas de pessoas foram chegando para nos apoiar! Quando começamos a escutar os gritos de dor dos animais e tivemos a informação de que eles seriam sacrificados, bati na casa do juiz, na delegacia, e mesmo com apoio político, percebemos que todos estavam do lado deles e nem se importavam com os animais. Quem tem coração não aguentou e juntos mudamos para sempre a história dos animais” – lembra.
Ainda de acordo com Luisa, o diretor do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal - CONCEA, Marcelo Marcos Morales, declarou que se abolirem os animais terão que importar tecnologia para substituir. “Ele afirmou isto para o site G1. Ora, ele acabou de confirmar que estão cometendo crimes! A lei é clara: se existe método substitutivo é crime praticar teste em animais” – conclui.
O acontecimento tomou proporção nas redes sociais, no dia seguinte a à invasão, aproximadamente 2.000 pessoas fizeram uma nova manifestação em frente ao prédio da empresa. Elas queriam entrar no Instituto Royal para ter certeza de que nenhum animal estaria escondido.
A averiguação não foi permitida porque a empresa conseguiu uma liminar na Justiça, que impedia a aproximação dos manifestantes. O grupo exigiu a apresentação  de um documento e, em meio  às negociações, começou o tumulto, com a iniciativa de um grupo de mascarados que incitaram a confusão. A Tropa de Choque da Polícia Militar reagiu e o confronto durou mais de quatro horas na rodovia Raposo Tavares. A situação foi controlada  após a chegada de reforços policiais.
Luiz Scalea, do grupo Emergência Animal, acusa o laboratório de esconder imagens que mostram os cachorros sendo queimados e mutilados vivos. “O Instituto Royal tem que mostrar para a população como esses animais são tratados. Se eles não têm nada a esconder, eles   devem mostrar os sítios e como eles fazem esses testes. Quero ver se eles têm coragem de mostrar esses vídeos. Não aguentamos mais vídeos bonitinhos. Temos que falar a verdade e não  mostrar uma coisa bonita para enganar a população. Se eles estão certos, por que não abriram a porta? Eles estavam querendo esconder alguma coisa?”.
Por meio de nota através da internet, os ativistas falaram sobre os atos de vandalismo. "Nunca uma manifestação deste tipo havia terminado assim no Brasil. Ativistas pelos direitos animais são contra qualquer tipo de violência" - dizia parte da postagem. Ainda segundo a mensagem, "o grupo de pessoas que usa tática Black Blocs, ajudou bastante na quinta-feira, mas o que ocorreu hoje divide opiniões entre as pessoas que foram até o local protestar pacificamente. Muitos dos mascarados que estavam lá não eram do mesmo grupo Black Bloc que foi ao local na quinta-feira e ajudou na invasão e libertação de alguns cães e coelhos" - finalizou a nota.
Na Itália, no dia 28 de abril de 2012, também aconteceu o resgate de vários cães da raça Beagle, que estavam sob a posse da empresa Green Hill, na cidade de Brescia. A iniciativa chamou mais a atenção por ter contado com o reforço de dezenas de pessoas que aderiram ao protesto espontaneamente, sem ter envolvimento com os ativistas ou mesmo com causas desse gênero. No total, 40 cães foram resgatados.
Cães da raça Beagle são usados em testes de produtos cosméticos e farmacêuticos, por serem de médio porte, dóceis e considerados de raça pura, teoricamente com menos variações genéticas, o que torna os resultados dos testes mais exatos.

O OUTRO LADO
O diretor científico do instituto, João Antônio Pegas Henrique, rebateu a acusação dos ativistas. "Aqui nossos animais não sentem dor. Não é feito nenhum tipo de teste com crueldade. Seguimos todas as normas da Comissão de Ética no Uso de Animais, além de termos a supervisão do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal” - enfatiza.
João disse também que os testes só são feitos nos cães depois de serem realizados em roedores. Por isso, os efeitos adversos apresentados nos Beagles não são agudos. Eles afirmaram que sempre que a reação ao medicamento é constatada, um dos nove veterinários do local intervém.
Em muitas das pesquisas, os cães acabam sacrificados, antes mesmo de completarem um ano, para que se possam avaliar os efeitos dos remédios nos órgãos dos bichos. 
Quando isso não é necessário, os cães são colocados para adoção - diz a empresa.

TESTES COM ANIMAIS: UMA QUESTÃO POLÊMICA
O uso de animais em pesquisas é permitido e regulado por normas internacionais. Para atuar no setor, as empresas devem seguir as normas do  CONCEA, órgão integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável pela formulação de normas relativas à utilização de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica.
Marcelo Morales, coordenador do CONCEA, defende que é preciso ter segurança para que a população use medicamentos. Por isso, vários tipos de animais são utilizados quando uma molécula ou medicamento são descobertos. “Talvez daqui a 200 ou 300 anos a gente deixe de usar animais. Mas, por enquanto, eles são extremamente importantes. Não só medicamentos de uso humano, mas os de uso veterinário, também são previamente testados em animais” - pontua.
De acordo com Jorge Guimarães, nutricionista e presidente da ONG Vegetarianismo Ético, Defesa dos Direitos Animais e Sociedade – VEDDAS - existem duas questões: morais/éticas e necessidades. “Do ponto de vista da necessidade, os testem em animais não são capazes de produzir a fisiologia humana. Por isso 30% dos medicamentos são retirados do mercado e eles foram testados em animais, sendo assim o teste final acaba sendo no humano” - esclarece.
Na Europa, muitas faculdades de medicina não utilizam mais animais, nem mesmo nas matérias práticas, como Técnica Cirúrgica e Cirurgia. Na Inglaterra e Alemanha, a utilização de animais na educação médica foi abolida. Sendo que, na Grã-Bretanha (Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda), é contra a lei estudantes de medicina praticar cirurgia em animais. A produção de anticorpos monoclonais por meio de animais foi banida na Suíça, Holanda, Alemanha, Inglaterra e Suécia. Na Itália, entre 2000 e 2001, mais de um terço das universidades abandonaram a utilização de animais para fins didáticos. A Província de Sul de Tirol, Itália, proibiu a experimentação em animais ao longo de seu território. Nos EUA, mais de 100 faculdades de Medicina (70%) não utilizam animais vivos nas aulas práticas. As principais instituições de ensino da Medicina, como a Harvard, Stanford e Yale julgam os laboratórios com animais vivos desnecessários para o treinamento médico. A proibição total da venda de cosméticos, cuja elaboração foi testada em animais, entrou em vigor no dia 11 de março deste ano na União Europeia.
Ray Greek é um médico americano que afirma: “A pesquisa com animais atrasa o avanço do desenvolvimento de remédios”. Ele é autor de seis livros, nos quais, sem recorrer a argumentos éticos ou morais,  tenta explicar cientificamente como a sua posição se sustenta.  Ele garante que sua motivação não é salvar os animais, mas analisar dados científicos.  
Segundo a pesquisadora Juliana Brito, existem inúmeros métodos substitutivos eficientes e eficazes que podem e já estão sendo usados nessa área. Isso, sem falar dos modernos processos de análise genômica e sistemas biológicos in vitro, que vêm sendo muito bem utilizados por pesquisadores brasileiros. “Sem falar que culturas de tecidos, provenientes de biópsia, cordões umbilicais ou placentas descartadas, dispensam o uso de animais. Vacinas também podem ser fabricadas a partir da cultura de células do próprio homem”, explica. Ela também defende a rotulação de produtos que são testados em animais.

ALGUNS PRODUTOS TESTADOS EM ANIMAIS, SEGUNDO A PEOPLE FOR THE ETHICAL TREATMENT OF ANIMALS (PESSOAS PELO TRATAMENTO ÉTICO DOS ANIMAIS) – PETA.
Johnson & Johnson; Unilever; Revlon; L'Oreal; Close-up; Dolce & Gabbana; L'Occitane; M.A.C. Cosmetics; Mary Kay; Michael Kors; Olay; Shiseido Cosmetic; P&G.

Por Fernanda Leite